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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mundos de Eufrásia

Para quem gosta de histórias sobre o nosso país, o livro em tela remonta a vida de Eufrásia, mulher de grande papel no Brasil Imperial. A história contada pela autora Cláudia Lage nos remete ao século XIX de modo delicado, porém, intenso, possibilitando ao leitor uma viagem em seus mundos.
Eufrásia Teixeira Leite e sua irmã, Francisca, foram preparadas pelo seu pai Joaquim Teixeira Leite para um mundo que ainda não existia. O negociante visionário, advogado e barão do café, criou suas herdeiras com a intenção de que as mesmas pudessem administrar o patrimônio, rodeando-as de muita matemática, literatura e geografia. Para a época, a criação recebida se diferenciava das demais, pois as mocinhas daquele tempo eram criadas para o casamento, considerando que os bens da esposa ficavam com o marido.

Tal situação causava farta preocupação ao seu pai, fato este que originou a promessa de que nunca iriam se casar. A partir daí a narrativa desencadeia o início de muitos problemas que a personagem principal teve de enfrentar. Entre eles, seu tio Cristóvão, que para não perder parte do patrimônio deixado diante do falecimento de Joaquim Teixeira Leite, tentou de várias maneiras casá-la com seu primo.

No entanto, visualizando um possível descontrole na administrdação da herança deixada com a realização do casamento, Eufrásia seguiu rumo a França sem dar muitas satisfações, para tornar-se uma grande financista de reconhecimento mundial. Para se ter uma ideia, na crise mundial de 1929, foi uma das únicas investidoras que se manteve no pedestal. Eufrásia tinha facilidade de multiplicar seu patrimônio, equiparando sua fortuna a de D. Pedro II.

Ao longo de sua vida, muitos eram os pretendentes que se aproximavam, porém, apenas um conseguiu conquistá-la. O galante Joaquim Nabuco, que anos depois se tornaria um dos líderes do movimento abolicionista no Brasil, surgiu com a intenção de se casar com Eufrásia. Ela, com a intenção de preservar sua fortuna, sugeriu que o casamento ocorresse mediante o regime de separação de bens, coisa que só acontecia na Europa. Ele não quis.

É por esse prisma que um relacionamento conturbado de idas e vindas entre os dois continentes que perdurou por quase quinze anos é recriado neste livro, indicando sutilmente a dificuldade de conciliar a carreira e o amor naquela época para uma mulher tão à frente de seu tempo.

Genial! E pensar que essa fluminense cresceu na cidade de Vassouras, Rio de Janeiro, que um dia já visitei. Eufrásia viveu por 23 anos na Chácara de Hera até ir para a França, onde morou por 49 anos. Aos 72 anos de idade ela retornou ao Brasil e morreu aos 80, em 1930.

A chácara hoje é um museu que guarda resquícios da vida familiar dos Teixeira Leite. Eufrásia foi muito querida na cidade e sua memória é mantida até hoje como forma de gratidão pelo que foi feito após a sua morte. Em seu testamento ela direcionou boa parte do dinheiro para população carente de Vassouras e de Paris. Em Vassouras fez a recomendação da construção de um hospital público e de duas instituições carentes, uma feminina e outra masculina, que se chamam Dr. Joaquim Teixeira Leite.

Leitura prazerosa. Livro de 418 páginas, fonte pequena. A autora Cláudia Lage é mestre em Literatura pela PUC-Rio e, após 6 anos de pesquisa sobre o tema, lançou esse conto espetacular.

Leia e descubra quais foram os beneficiados pelo seu testamento além das mencionadas cidades. Chega a ser engraçado. Ela foi demais!

Bonne lecture!

fonte: Mundos de Eufrásia – A historia do amor entre a incrível Eufrásia Teixeira Leite e o notável Joaquim Nabuco; Revista Cláudia Jun/09

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