Colaboradores

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Parabéns para alguém

Saber Envelhecer
por Jeanne Bilich

Desde a tenra infância, enxergava as pessoas de idade como livros volumosos, plenos de histórias e saberes. Minha octogenária avó materna, Mariinha, por exemplo, era para mim um dicionário. Quase 3.000 páginas... Já os tios e tias, pai e mãe - o critério independia menos de suas cronologias, mas da riqueza e abundância dos seus relatos, experiências e vivências - eram livros de tamanhos grandes, médio e alguns, lamentavelmente, eu julgava serem bem fininhos... Singularíssima biblioteca!

Defrontar-se com o próprio envelhecimento provoca reações. Uma incômoda e difusa sensação de mal-estar precede alguns aniversários. Quando ocorre? Bem, para alguns, na aproximação dos 40; para outros, uma década mais tarde; e, para aqueles mais desatentos - os tais “cegos que não querem ver”-, aos 60 anos. Aí o marco! Ingresso ou bem próximo do que agora se convencionou chamar “Terceira Idade”. Particularmente, não gosto! Por quê? Porque se atrela à noção de produção: primeira idade, preparação; segunda, produtividade; e, terceira, aposentadoria. Melhor “idoso”, significando pleno de idade ou o explícito “velho”. Velho homem. Velha mulher. Bonito! Despido de qualquer conotação pejorativa, associando-se a um envelhecer pleno de experiências, valentia e garbo de haver vencido as etapas cronológicas anteriores – e quantos foram os que ficaram pelo caminho? – e, claro, acúmulo de sabedoria.

Difícil é envelhecer numa sociedade que tenta escamotear o natural avanço da idade. O mito da juventude. Assim, a maioria das pessoas ignora que passará por mudanças biológicas e psíquicas. Aliás, a esse respeito, diz C.J. Jung em um dos seus ensaios: “O pior de tudo é que pessoas inteligentes e cultas vivem suas vidas sem conhecerem a possibilidade de tais mudanças. Entram inteiramente despreparadas na segunda metade de suas vidas”. E logo adiante: “Não podemos viver a tarde de nossa vida segundo o programa da manhã, porque aquilo que era verdadeiro na manhã será falso ao entardecer”.

Já em “Saber Envelhecer”, Cícero 44 (a.C) defende a tese de que a arte de envelhecer consiste em encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm as suas virtudes. E contesta características pseudoinerentes à velhice: “Ouve-se dizer que os velhos são mal-humorados, atormentados, irascíveis e rabugentos - e mesmo avarentos, examinando-se bem. Mas esses são defeitos inerentes a cada indivíduo e não à velhice!”. Peremptório, o escritor latino afirma: “Somente os idiotas lamentam-se em envelhecer”.

A cinematografia e a literatura contemporânea começam, agora, a melhor explorar o tema. Talvez em decorrência do processo de envelhecimento da população mundial. Fala-se, hoje, até em “Quarta Idade”: os octogenários em diante. “Elsa e Fred: Um Amor de Paixão” e “Vênus”- com o magistral Peter O’Toole no papel de Maurice – são os mais recentes. Belos! Já para os amantes da leitura, como eu, duas sugestões: “A Revolução dos Idosos”, de Frank Schrrmacher, e “A Nova Velhice” de Teresa Creusa de Góes Minteiro Negreiros. Afinal, conhecimento & informação são poderosos antídotos contra receios e temores. Um feliz envelhecer para todos nós!
Texto escrito em 19 de agosto de 2007

Feliz aniversário! BarbaRove.

imagem da web

Nenhum comentário:

Postar um comentário